quinta-feira, 3 de novembro de 2011

UM SONHO INTERROMPIDO...


Aos pais do Tiago, Horácio e Margarida Alves

Quis deixar passar algum tempo antes de escrever e enviar este texto. A homenagem ao Tiago foi um momento de muita emoção para todos os presentes e, de certeza, ainda mais duro para os pais.

Queria dizer-vos que na carta do vosso filho vejo um Tiago corajoso e decidido a seguir o seu sonho. Com pena de deixar uma realidade que conhece e gosta, para seguir um sonho, que infelizmente foi interrompido. Ter recebido por parte do Tiago esta e outras cartas, teria significado que o percurso dos acontecimentos teria sido bem diferente.

Como professores criamos muitas vezes laços com os nossos alunos, mas nem sempre nos apercebemos o quanto, sabe-se lá porquê, podemos ser importantes para algum em especial. Também a turma do Tiago (e serão sempre os colegas do Tiago) foi especial e o Tiago nunca será esquecido.

Para mim será sempre:

- o Tiago que nas visitas de estudo fazia a festa e punha toda a gente bem-disposta;

- o Tiago que tocava viola nos intervalos;

- o Tiago que me pegou ao colo no fim de uma demonstração de judo;

- o Tiago que entrava na sala a cantar “ Quem é o gostozão daqui? Sou eu. Sou eu”;

- o Tiago que, com naturalidade, expunha as dúvidas características de um jovem adolescente;

- o Tiago com quem também me zanguei (faz parte), mas sempre por pouco tempo, como era de nosso feitio.

Vou recordar um aluno cheio de energia e alegre, que como todos os outros, também tinha os seus momentos menos felizes, mas que enfrentava com coragem as adversidades, como quando fez a cirurgia de reconstrução. O Tiago era único e um colega querido pelos outros.

Infelizmente (ou felizmente) não estive presente nos últimos dias de vida do vosso filho e talvez por isso, como vos disse, para mim é irreal o que lhe aconteceu. A vida ou o destino (sei lá!) foi injusta e cruel, com ele e convosco, que foram uns pais sempre atentos e presentes na vida dele. Não me esqueço que, para com a escola, actuaram sempre numa postura de colaboração de resolução de todas as situações, o que infelizmente, nem sempre acontece. São os pais que qualquer jovem gostaria de ter.

Diz quem sabe, que a dor de perder um filho não se supera, no entanto, desejo do coração, que o tempo vá tornando a vossa, pelo menos suportável.

Até sempre e sempre ao vosso dispor

Dulce Dias