Voltámos para casa,
durante o percurso não falámos nada, ou pelo menos não me lembro. Chegámos,
abri o portão, parei o carro, estava um calor insuportável, entramos em casa e
o Tiago muito devagar subiu para o seu quarto. E, então, chorou, gritou,
gritou, num desespero total num sofrimento sem fim, o nosso teto tinha caído, o
nosso filho estava a explodir. A Guida subiu, foi ter com ele, ela também
lavada em lágrimas, sangrando, sangrando pelo coração de mãe, sangrando pelo
seu filhinho amado, sangrando pela maior paixão da sua vida. Pediu á mãe, por
favor que o deixa-se sozinho, queria estar sozinho. A mãe desceu, vagueávamos
os dois pela casa com a cabeça entre as mãos, olhávamos para o nada, nada era
tudo o que conseguíamos ver, nada, a nossa vida estava a ficar sem nada.
Ouvia-mos cá em baixo a
conversa ao telefone com a Andreia, a sua namorada, muito envergonhado como se
culpa tivesse, chorava… choravam os dois, os seus sonhos de meninos estavam a
ser interrompidos, uma dor, um desgosto, uma tristeza. Estiveram horas ao
telefone sem parar de chorar nem por um só momento, nós, igualmente. Impotentes,
mas o que é que nós podemos fazer? Tem que se poder fazer alguma coisa, não é
possível…
Telefonámos ao Rui, o
irmão, tem agora vinte e oito anos, quando o Tiago nasceu
o Rui tinha dez anos, viveu a gravidez do irmão na maior das felicidades. Foi o
Rui que escolheu o nome completo do irmão. O Rui sempre foi um ídolo para o
Tiago. Era um amor bom de ver, muito bom.
Ficou desfeito com o
telefonema, não conseguiu mais descansar, não conseguiu mais viver a vida dele,
passou a viver praticamente só para o irmão.
Telefonámos para o resto dos familiares, amigos
e, sobretudo para os amigos e colegas da AAC-Judo. Os colegas da secção de Judo
foram incansáveis. Ficaram todos, sem excepção de rastos, o Tiago sempre foi
muito querido na secção, não só como atleta mas sobretudo como pessoa.
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