Caminho para a luta
Agarrar a vida
Nunca desistir nem baixar os braços
Combater com unhas e dentes
Resistir à dor e ao sofrimento
Olhos sempre postos na confiança
Este é o meu Ippon fo Life
A vida às vezes é um mistério, existem passagens nela que nem nós nem ninguém consegue explicar e muitas vezes acabamos por sofrer com isso.
Muitas vezes perguntamos porquê que o mal só acontece a nós e não aos outros, porquê que eu, que tento ser a melhor pessoa possível e tento ter uma vida o máximo saudável possível, tenho de levar com todo o mal enquanto que existe outras pessoas que se estragam com drogas e andam para aí a matar ou a roubar e nada lhes acontece. Não estou a dizer que desejo o mal a essas pessoas, mas sou humano e acho que tenho o direito de pensar desta forma. Além de que não devo ser o único.
O dia 21 de Junho de 2010 foi para mim o pior dia da minha vida. Foi o dia em que me tiraram a minha pessoa. A sério, neste momento eu sou uma pessoa totalmente diferente.
Tudo começou mais ou menos em Janeiro de 2010 quando comecei a sentir umas dores estranhas na barriga a qual não valorizei muito. Treinava muito e estava numa fase onde tinha muitas competições e ainda havia a escola, os testes e trabalhos para entregar, pensei que fosse tudo uma questão de stress. Não valorizei. Mas o que é certo, é que à medida que o tempo passava as dores iam ficando mais fortes e agora com outro sintoma, sempre que acabava de comer, tinha de ir defecar.
Continuei a treinar no duro e a competir, não valorizei nenhum dos sintomas, até que em Março, quando fui com os meus colegas de equipa e treinador João Neto a Lisboa para um estágio as coisas agravaram um pouco mais. Continuava com cólicas sempre que comia e sempre com vontade de ir defecar. Fui às urgências, um pouco contrariado por não queria ir ao hospital, e lá o médico disse que poderia ser uma gastroenterite. “Pronto não é nada de grave” pensei eu mas na mesma noite passei-a toda com dores horríveis e a vomitar um liquido amarelado e azedo. Sentia me muito mal, quase não conseguia estar em pé de tantas dores. Fui novamente às urgências e desta vez disseram me que poderia ser uma questão nervosa. Eu de facto andava nervoso pois estava perto que uma competição muito importante, que era a Taça da Europa em Portugal, em que eu tinha o objectivo de alcançar uma medalha.
Acabei por melhorar um pouco, competi na Taça da Europa, mas a prova não correu nada bem, estava lento, muito mole e sonolento. Perdi o primeiro combate e lembro-me que logo a seguir fui me isolar e acabei por adormecer num banco.
Com esta derrota, comecei a entrar em stress pois queria ter os mínimos para o Campeonato da Europa e do Mundo, então disse aos meus treinador João Neto e João Abreu (Jocá) que queria muito ir à Taça da Europa na Estónia para ver se conseguia algo.
Acabei por ir para a Estónia, apesar de continuar a sentir-me mal. Fui com o treinador João Neto e com os meus colegas de equipa: Luís Mendes, Gustavo Andrade, Eduardo Silva e Antoine Massart.
Consegui alcançar o grande objectivo para essa prova, alcancei a medalha de bronze e já tinha mínimos para tudo, mas no final da prova senti-me com febre, dores nos rins (que eu pensava que tinha sido uma pancada nas costelas) e claro grandes dores na barriga. Devido às cinzas vulcânicas do vulcão da Islândia, não houve voos durante uma semana, por isso ficamos retidos na estónia durante uma longa semana. Enviei uma mensagem para a minha mãe a informar que não me sentia muito bem, para marcar com máxima urgência uma consulta para um médico de gastrologia.
Quando cheguei a Portugal e antes da consulta, participei no Campeonato Nacional de Equipas Seniores. Não me sentia nada bem, não conseguia comer e estava muito leve. Acabei por perder todos meus combates e senti-me mal, quase desmaiei no meu primeiro combate.
Finalmente tive a consulta de gastrologia, o médico mandou-me fazer uma serie de exames e ao fim de quase um mês de pesquisa, achou por bem mandar-me internar no Hospital Universitário de Coimbra. Lá fui fazer mais uma série de exames, sendo um deles uma colonoscopia e uma endoscopia para fazer umas biopsias ao estômago e aos intestinos, que não correu nada bem, os médicos injectaram demasiado ar para dentro no meu intestino e não conseguiram remove-lo, quando acordei da anestesia, tive dores de morrer, a sério, parecia que a minha barriga ia explodir. Tive de ser operado de urgência e os médicos aproveitaram para fazer todas as biopsias.
Após quinze dias de internamento e de recuperação da cirurgia finalmente descobriram o meu problema e no dia 21 de Junho disseram-me que eu tinha cancro no estômago com metástase num bocado do intestino. Fiquei chocado e não aceitei muito bem, mas só havia agora uma coisa a fazer, CURAR.