domingo, 1 de julho de 2012

NAAAÃO!



-Não, não é verdade, vocês não podem estar a falar verdade, estão a dizer-me que o meu filho vai morrer, não, o meu filho não pode morrer, têm que fazer alguma coisa, tem que ser feita alguma coisa, NAAAÃO! – Gritava eu histérico, a chorar, a berrar naquele gabinete. Neste momento já todos chorava-mos naquela pequena sala, inclusive o Professor; dizia que poderia imaginar a nossa dor pois tinha um neto com a idade do Tiago e, nem queria pensar se tal coisa lhe acontecesse.
 Não, ninguém consegue imaginar esta dor, só quem por ela está a passar. Ninguém consegue imaginar o que é que uma mãe e um pai sentem, ou não, porque não se consegue explicar a intensidade da dor, o mau estar, os suores, os arrepios, a vontade de vomitar quando alguém vindo do nada nos diz…o vosso filho vai morrer. Só alguns sabem ao que me refiro, á dor, ao sentimento que ainda hoje não consigo explicar. É de tal forma forte e violento que não encontro ninguém que consiga descrever ferida que sangra constantemente e o sangue não se vê!
A Guida, minha querida e amada esposa chorando tentava acalmar-me:
-Pára, por favor pára, expliquem-me tudo por favor, não pode ser, digam-me o que se passou, digam-me o que podemos fazer, digam-me que há alguma esperança.
-GUIDA, ELES ESTÃO A DIZER-NOS QUE O NOSSO FILHO, O NOSSO TIAGO VAI MORRER, MORRER NÃO ESTÁS A PERCEBER, O NOSSO FILHO VAI MORRER. – Gritava eu em desespero como se os meus gritos alterassem alguma coisa. Eu só queria que me dissessem que morrer não, o meu Tiago não ia morrer. Mas isso ninguém nos disse, bem pelo contrário. Quando a Guida perguntou quais eram as possibilidades, a Dra. Dulce respondeu-lhe que ia estudar o problema mais a fundo e que depois dizia alguma coisa. Logo de imediato o Professor entreviu.
-Atenção, é muito importante ter em conta a qualidade de vida com que estes pacientes ficam, sabemos que a proporção de sobrevivência é de um (1%) contra noventa e nove (99%) por cento.
Saímos, cá fora no corredor a Dra. Dulce dirigiu-se a nós, que estava-mos de rastos, como se um comboio nos tivesse passado por cima e, disse-nos:
-Eu vou tentar tudo por tudo, vocês estão dispostos a ir até onde? Pode ser que tenhamos que ir para o estrangeiro, o que me dizem?
Os dois ao mesmo tempo, atropelando o diálogo um do outro, quisemos ali, naquele momento deixar bem claro que tudo, para todo o lado, fosse para onde fosse, estava-mos dispostos a ir até ao fim do mundo.
Pediu-nos que fosse-mos para casa, ela depois telefonava, e além disso o Tiago na segunda-feira tinha que vir fazer o penso e se nós  quisesse-mos ela falava com Ele. Assim fizemos, como poderíamos nós dizer á pessoa que mais amamos, na flor da idade e com tamanha vontade de viver que tem um cancro e vai morrer! Como?