-Não, não é verdade, vocês
não podem estar a falar verdade, estão a dizer-me que o meu filho vai morrer,
não, o meu filho não pode morrer, têm que fazer alguma coisa, tem que ser feita
alguma coisa, NAAAÃO! – Gritava eu histérico, a chorar, a berrar naquele
gabinete. Neste momento já todos chorava-mos naquela pequena sala, inclusive o
Professor; dizia que poderia imaginar a nossa dor pois tinha um neto com a
idade do Tiago e, nem queria pensar se tal coisa lhe acontecesse.
Não, ninguém consegue imaginar esta dor, só
quem por ela está a passar. Ninguém consegue imaginar o que é que uma mãe e um
pai sentem, ou não, porque não se consegue explicar a intensidade da dor, o mau
estar, os suores, os arrepios, a vontade de vomitar quando alguém vindo do nada
nos diz…o vosso filho vai morrer. Só alguns sabem ao que me refiro, á dor, ao
sentimento que ainda hoje não consigo explicar. É de tal forma forte e violento
que não encontro ninguém que consiga descrever ferida que sangra constantemente
e o sangue não se vê!
A Guida, minha querida e
amada esposa chorando tentava acalmar-me:
-Pára, por favor pára,
expliquem-me tudo por favor, não pode ser, digam-me o que se passou, digam-me o
que podemos fazer, digam-me que há alguma esperança.
-GUIDA, ELES ESTÃO A
DIZER-NOS QUE O NOSSO FILHO, O NOSSO TIAGO VAI MORRER, MORRER NÃO ESTÁS A
PERCEBER, O NOSSO FILHO VAI MORRER. – Gritava eu em desespero como se os meus
gritos alterassem alguma coisa. Eu só queria que me dissessem que morrer não, o
meu Tiago não ia morrer. Mas isso ninguém nos disse, bem pelo contrário. Quando
a Guida perguntou quais eram as possibilidades, a Dra. Dulce respondeu-lhe que
ia estudar o problema mais a fundo e que depois dizia alguma coisa. Logo de
imediato o Professor entreviu.
-Atenção, é muito
importante ter em conta a qualidade de vida com que estes pacientes ficam,
sabemos que a proporção de sobrevivência é de um (1%) contra noventa e nove
(99%) por cento.
Saímos, cá fora no
corredor a Dra. Dulce dirigiu-se a nós, que estava-mos de rastos, como se um
comboio nos tivesse passado por cima e, disse-nos:
-Eu vou tentar tudo por
tudo, vocês estão dispostos a ir até onde? Pode ser que tenhamos que ir para o
estrangeiro, o que me dizem?
Os dois ao mesmo tempo,
atropelando o diálogo um do outro, quisemos ali, naquele momento deixar bem
claro que tudo, para todo o lado, fosse para onde fosse, estava-mos dispostos a
ir até ao fim do mundo.
Pediu-nos que fosse-mos
para casa, ela depois telefonava, e além disso o Tiago na segunda-feira tinha
que vir fazer o penso e se nós quisesse-mos
ela falava com Ele. Assim fizemos, como poderíamos nós dizer á pessoa que mais
amamos, na flor da idade e com tamanha vontade de viver que tem um cancro e vai
morrer! Como?
Como nós vos compreendemos... Connosco aconteceu exactamente o mesmo. E será que valeu a pena a nossa filha ter sofrido tanto???
ResponderEliminarUm grande abraço e beijinhos para a esposa
Mesmo muito duro, não existe pior situação no mundo que esta.
ResponderEliminarMostraram o grande amor que tiveram com o vosso filho e o Tiago sabe que não podia ter melhores pais.
O meu grande apoio a voces.
Miguel Monteiro