quinta-feira, 1 de março de 2012

Mano "Telmo"...

Telmo Alves – Capitão da equipa sénior da AAC

“O Tiago falava muito comigo. Confidenciava-me algumas coisas. Ele chamava-me o mano Telmo, porque ambos éramos Alves de apelido.

O Tiago no treino era dedicado, disciplinado. O objectivo dele era os jogos. Ele uma vez falou comigo, ainda era juvenil, no parque verde, e disse que tinha o sonho de ir aos Jogos. Até lhe disse que era muito complicado, que tinha que trabalhar muito. Ele dizia que queria mesmo ir, que não se importava de não ganhar nenhum combate, mas queria lá chegar.

Quando estive com ele no hospital, encontrei-o muito fragilizado, mas com aquela vontade de viver. Ele até me disse que não sabia a categoria em que ia competir quando ficasse recuperado. Disse que tinha muitas saudades do pessoal.

O Tiago era o mais jovem na ida a Valência, à taça dos campeões europeus. Ele tinha medo de errar, de não ganhar os combates, de o pessoal ficar chateado. Tanto que quando perdia ele vinha pedir desculpa ao pessoal. Ele foi o primeiro a ganhar combates da equipa.

O Tiago quando decidiu parar para fazer os exames, eu fui a primeira pessoa com quem ele falou, mesmo antes dos treinadores, e que me disse que ia parar uma ou duas semanas. Eu até fiquei admirado e até perguntei “tu vais parar duas semanas, então tu querias ir a Ucrânia” e estava naquela de treinar, treinar para preparar o campeonato da Europa. Eu na altura estranhei, parar duas semanas quando estava a treinar tão forte. Foi quando ele me contou que não se sentia bem e que estava com aqueles problemas. Eu perguntei o que o médico achava e ele disse que o médico disse que podia ser muita coisa, mas que não queria estar a dizer o que é que era, que queria esperar primeiro pelos resultados. Só depois de ter falado comigo é que foi avisar o Jocá e o João Neto que ia parar duas semanas.”


Pedro Serralheiro – Médico, amigo e ex-treinador do Tiago

“Eu conhecia o Tiago há bastante tempo. O Tiago já era judoca em Lisboa e quando veio para Coimbra, o António Matias (treinador dele na altura) referenciou-o para a AAC. Na altura eu era treinador e atleta de Judo na AAC. Ele ingressou no clube e começou a praticar Judo com o Nuno e, por vezes, comigo.

Eu tive conhecimento da doença do Tiago pelo Nuno. Telefonei ao Tiago e ele estava nesse preciso momento no IPO de Lisboa em consulta, onde eu também estava a realizar um estágio profissional. Posteriormente o Tiago foi internado e como eu estava no Instituto a trabalhar, tive a oportunidade de o acompanhar diariamente, não como médico mas sim como amigo. Sempre que tinha oportunidade passava por lá, falava um bocado com ele, com os pais e com o irmão.

Eu conhecia o Tiago como um atleta, com uma estrutura física completamente diferente daquela que ele tinha quando foi internado no IPO. Foi muito penoso ver a evolução dele e a sua crescente debilidade ao longo dos dias.

Acho que não é nada comum o Tiago, já doente, ter conseguido alcançar uma medalha numa competição internacional. Esta é uma prova de que ele era uma pessoa extremamente lutadora e que sofria imenso para alcançar os objectivos a que se propunha.

"Um verdadeiro Campeão”.

( Um muito obrigado a todos os amigos que tiveram a coragem de deixar os seus testemunhos e, muito obrigado aqueles que gostariam mas, não tiveram oportunidade de o fazer. Horácio Alves)