sábado, 1 de janeiro de 2011

CAMPEONATO NACIONAL DE JUNIORES 2010




Dia 21/02/2010 Domingo

Eram sete da manhã. Finalmente chegou o dia!
Mal acordei fui ter ao quarto dos meus pais e disse-lhes “Chegou a hora da GUERRA”. Fui tomar banho, vestir o meu fato de treino da AAC e seguimos em direcção ao pavilhão no Estádio Universitário de Lisboa . Queria pesar-me o mais rápido possível para poder tomar o meu pequeno almoço.
65,7 kg era o meu peso. Mais uma vez, sem grande sacrifício, consegui estar no peso. Apenas uma semana sem grandes abusos alimentares e estou fino.
Tomei o pequeno-almoço com os meus pais num snack-bar junto ao pavilhão. Quando acabei o meu pai voltou-se de novo para mim e disse:

“Hoje é o teu dia, mostra o que vales! E não te esqueças, aconteça o que acontecer, eu amo-te muito”

Fui ter com os meus colegas de equipa e fomos todos preparar-nos para aquecer. O nosso treinador João Neto tratou de nos orientar enquanto o Jocá foi buscar as folhas de prova. Tinha-me calhado para o primeiro combate um atleta de Portimão, achei que poderia ser um combate fácil mas, nunca o subestimei.
Após o aquecimento, fui para o meu habitual momento de concentração. É nestes momentos na prova que eu aproveito para rever todo o meu percurso até ao momento. Pensei em todos, nos meus pais, no meu irmão, na minha namorada (que também iria competir), na minha família, nos meus colegas de equipa e amigos e nas vezes que não consegui medalhar em nacionais anteriores. Eu já sabia qual era o gosto de ser campeão nacional por duas vezes. Queria senti-lo hoje outra vez … “Hoje é uma prova importante. Tens de provar a ti mesmo, que consegues provar a todos que és um campeão! Ganhes ou percas, não te manifestes. E não te esqueças de te divertir” disse eu a mim mesmo. Fechei os olhos, respirei fundo e segui em frente…
Como tinha previsto os dois primeiros combates foram simples. Ganhei o primeiro por ippon (vantagem máxima) e o segundo por wazari.
Nos quartos de final iria encontrar o Pedro Guarinho da Universidade Lusófona. Não iria ser um combate fácil, mas eu pensei que conseguiria ganhar. Durante o combate todo, estive sempre, sempre a atacar e ele pouco ou nada fazia. O único problema, é que ele não caía de jeito nenhum e isso começava a enervar-me. Após tantos ataques, comecei a fazer falsos ataques, a que os árbitros me castigaram. Ele apenas teve de gerir o combate até ao fim. Não queria, não podia perder este combate “Eu sou mais forte que este gajo” pensei eu. O João Neto gritava a protestar contra os árbitros pois estes não castigavam o meu adversário por ele não atacar. Insisti em atacar e ele nada. Pura e simplesmente não caía por mais que lhe batesse nas pernas, por mais que abanasse, ele não caia…

Acabou o tempo…
Perdi…… perdi por castigos, castigaram-me por ter arriscado em atacar, por falsos ataques e ele não, praticamente não atacou, não o castigaram por falta de combatividade.
“Oh não! Lá estás tu outra vez Tiago” pensei eu. Pensei nas minhas anteriores derrotas em Nacionais. Lembrei-me do sabor amargo de não levar uma medalha no ano passado. Fui-me isolar de todos para que ninguém me visse e comecei a chorar.

“Porquê? Eu treinei tanto… eu sou mais forte que todos eles… porque não consigo ganhar? O que se passa comigo?”
Iria ser repescado. Tinha uma oportunidade para conseguir medalhar. Mas sinceramente, esta medalha não me iria saber a nada… Eu sabia que era o mais forte na categoria de -66kg. A medalha de bronze apenas serviria para salvar a minha honra, para ser convocado pela selecção para as provas internacionais. Todos se esquecem dos terceiros lugares.
O João Neto disse-me que não tinha mal eu ter perdido o combate. “Fizeste um excelente combate, o gajo é mais fraco do que tu.”
O Jocá, também triste, disse-me que não deveria arriscar tanto.
Fui-me sentar num banco e o meu colega Gustavo veio ter comigo e disse-me:
“Puto, alegra-te! Todos viram que tu estavas superior. Saca a medalha de bronze e vais mostrar quem manda no Torneio Internacional de Portugal”.
O meu pai também veio ter comigo “Filho, tiveste tão perto. Agora esquece e saca a medalha de bronze. O Torneio Internacional de Portugal vai-te correr melhor… olha alegra-te agora, vai para o tapete e faz aquilo que melhor sabes. Dá a esta gente um espectáculo de judo e diverte-te.”
Eu disse-lhe para ele ligar ao meu irmão, eu queria que ele estivesse presente.
Faltavam dois combates para ir disputar a medalha de bronze, ganhei-os sem dificuldades.
Não estava de todo alegre. Por mais que me esforça-se era-me difícil sorrir. Não só pela minha prova mas também pela da minha namorada, que também tinha corrido mal. Não quis ir ter com ela “Ganhe ou perca na minha prova, não quero que venhas ter comigo enquanto estiveres a combater. Não quero que te distraias.” Mas eu no fundo queria abraçar-me a ela e dar-lhe um beijo. Mas tinha a minha missão para concluir.
Não iria conseguir o meu objectivo máximo, mas pelo menos o mínimo tinha de conseguir. O combate que se seguia era para a medalha de bronze contra Paulo Jesus do Judo Clube do Funchal. Já o conhecia e sempre lhe ganhara. Cheguei à área de competição olhei para os meus pais, para o meu irmão que tinha acabado de chegar, para minha namorada, para os meus colegas e quis fazer o que o meu pai me pediu, dar um espectáculo de judo. O João Neto e o Jocá viram-se para mim e disseram para fazer o meu judo. E foi o que fiz… Peguei no meu adversário e arrebatei a técnica mais bonita que sei fazer, uchi-mata.


Ippon, era medalha de bronze… levantei o braço para todos eles a agradecer o apoio. Quando sai da área abracei-me aos meus colegas e treinadores, fui-me isolar de novo e fui chorar, não de alegria, mas sim de raiva. Raiva de saber que o adversário com quem perdi ficou em 2º, raiva de saber que já ganhei ao atleta campeão nacional, raiva se saber que pelo menos naquele dia, eu era o mais forte.
Na cerimónia de medalhas não consegui sorrir, sentia-me frustrado e até mesmo envergonhado… sai do pódio e tirei logo a medalha do peito, coisa que não costumo fazer. Sempre que medalhava, sentia-me orgulhoso da medalha, mas naquele momento não senti orgulho nenhum…
Toda a gente estava com esperanças que eu conseguisse melhor, mas não consegui.
Enfim, já passou, este objectivo não foi 100% concluído mas também não foi mau, agora tracei um novo objectivo: Medalhar no Torneio Internacional de Portugal.



Vou continuar a trabalhar, trabalhar ainda mais afincadamente… Tenho ainda muito para dar.

Tiago Alves 21/02/2010
(Publicado por- Horacio Alves)