sábado, 1 de dezembro de 2012

Tem que se poder fazer alguma coisa...


Voltámos para casa, durante o percurso não falámos nada, ou pelo menos não me lembro. Chegámos, abri o portão, parei o carro, estava um calor insuportável, entramos em casa e o Tiago muito devagar subiu para o seu quarto. E, então, chorou, gritou, gritou, num desespero total num sofrimento sem fim, o nosso teto tinha caído, o nosso filho estava a explodir. A Guida subiu, foi ter com ele, ela também lavada em lágrimas, sangrando, sangrando pelo coração de mãe, sangrando pelo seu filhinho amado, sangrando pela maior paixão da sua vida. Pediu á mãe, por favor que o deixa-se sozinho, queria estar sozinho. A mãe desceu, vagueávamos os dois pela casa com a cabeça entre as mãos, olhávamos para o nada, nada era tudo o que conseguíamos ver, nada, a nossa vida estava a ficar sem nada.
Ouvia-mos cá em baixo a conversa ao telefone com a Andreia, a sua namorada, muito envergonhado como se culpa tivesse, chorava… choravam os dois, os seus sonhos de meninos estavam a ser interrompidos, uma dor, um desgosto, uma tristeza. Estiveram horas ao telefone sem parar de chorar nem por um só momento, nós, igualmente. Impotentes, mas o que é que nós podemos fazer? Tem que se poder fazer alguma coisa, não é possível…
Telefonámos ao Rui, o irmão, tem agora vinte e oito anos, quando o Tiago nasceu o Rui tinha dez anos, viveu a gravidez do irmão na maior das felicidades. Foi o Rui que escolheu o nome completo do irmão. O Rui sempre foi um ídolo para o Tiago. Era um amor bom de ver, muito bom.
Ficou desfeito com o telefonema, não conseguiu mais descansar, não conseguiu mais viver a vida dele, passou a viver praticamente só para o irmão.
Telefonámos para o resto dos familiares, amigos e, sobretudo para os amigos e colegas da AAC-Judo. Os colegas da secção de Judo foram incansáveis. Ficaram todos, sem excepção de rastos, o Tiago sempre foi muito querido na secção, não só como atleta mas sobretudo como pessoa.