quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O pior dia da minha vida


Segunda-feira, 21 Junho 2010
Uma vez mais lá estava-mos nós no HUC, desta vez para irmos com o Tiago tirar os agrafos, fazer os pensos tanto da cicatriz como dos drenes. Já na sala de pensos, a enfermeira muito simpática convidou-nos a sair para poder estar mais á vontade com o Tiago. Alguns instantes depois chegou a Dra. Dulce que nos apresentou a enfermeira. Terminado o penso, dirigimo-nos para uma pequena salinha portas meias com a enfermaria, pediu para nos acomodarmos, o Tiago sentou-se, cansado, fraquinho e muito apreensivo em frente á secretária, a mãe Guida sentou-se ao lado e eu fiquei em pé a traz dos dois. Eu e a mãe, nervosos, com os corações a sangrar, o estômago colado á boca que chegava a dar vómitos e, o pior, esse ainda estava para chegar. A Dra. Dulce levantou os olhos do processo, olhou nos olhos do nosso filho e….
-Tiago, tu estás muito doente, o que tu tens é muito grave – uma longa pausa, levanta a cabeça de novo – Tiago, tu tens um cancro no estômago.
Meu querido filho, tinha acabado de morrer… Uma tristeza sem fim, chorava, fraquinho que até a força para gritar lhe faltou, chorou quase em silêncio. Nós, nós chorávamos compulsivamente, a médica deixava que as lágrimas se transformassem em pequenas gotas no canto dos olhos vermelhos pois eticamente não era suposto o médico chorar em frente ao paciente. E o meu filho! O que estaria a sentir o meu filho? A que velocidade estavam a passar os pesadelos na sua cabecinha? Como eu queria estar no lugar dele… Nunca se devia dar uma notícia destas a um filho e, um pai a assistir a todo este sofrimento, impotente, sem saber o que fazer, ou simplesmente, sem poder fazer nada. Não te quero ver sofrer, mas como vou trocar o lugar contigo, como?
O que o meu filho estava a pensar veio, mais tarde, a dar-nos uma pequeníssima ideia no seu blog.
O dia 21 de Junho de 2010 foi para mim o pior dia da minha vida. Foi o dia em que me tiraram a minha pessoa. A sério, neste momento eu sou uma pessoa totalmente diferente.”