Uma vez mais lá estava-mos
nós no HUC, desta vez para irmos com o Tiago tirar os agrafos, fazer os pensos
tanto da cicatriz como dos drenes. Já na sala de pensos, a enfermeira muito
simpática convidou-nos a sair para poder estar mais á vontade com o Tiago. Alguns
instantes depois chegou a Dra. Dulce que nos apresentou a enfermeira. Terminado
o penso, dirigimo-nos para uma pequena salinha portas meias com a enfermaria,
pediu para nos acomodarmos, o Tiago sentou-se, cansado, fraquinho e muito
apreensivo em frente á secretária, a mãe Guida sentou-se ao lado e eu fiquei em
pé a traz dos dois. Eu e a mãe, nervosos, com os corações a sangrar, o estômago
colado á boca que chegava a dar vómitos e, o pior, esse ainda estava para
chegar. A Dra. Dulce levantou os olhos do processo, olhou nos olhos do nosso
filho e….
-Tiago, tu estás muito
doente, o que tu tens é muito grave – uma longa pausa, levanta a cabeça de novo
– Tiago, tu tens um cancro no estômago.
Meu querido filho, tinha
acabado de morrer… Uma tristeza sem fim, chorava, fraquinho que até a força
para gritar lhe faltou, chorou quase em silêncio. Nós, nós chorávamos
compulsivamente, a médica deixava que as lágrimas se transformassem em pequenas
gotas no canto dos olhos vermelhos pois eticamente não era suposto o médico
chorar em frente ao paciente. E o meu filho! O que estaria a sentir o meu
filho? A que velocidade estavam a passar os pesadelos na sua cabecinha? Como eu
queria estar no lugar dele… Nunca se devia dar uma notícia destas a um filho e,
um pai a assistir a todo este sofrimento, impotente, sem saber o que fazer, ou
simplesmente, sem poder fazer nada. Não te quero ver sofrer, mas como vou
trocar o lugar contigo, como?
O que o meu filho estava a
pensar veio, mais tarde, a dar-nos uma pequeníssima ideia no seu blog.
“O dia 21 de Junho de
2010 foi para mim o pior dia da minha vida. Foi o dia em que me tiraram a minha
pessoa. A sério, neste momento eu sou uma pessoa totalmente diferente.”