sábado, 2 de março de 2013

Nestas alturas questionamos tudo...


Da avenida da Liberdade voltámos de imediato para o IPO. Aguardámos!
O Tiago já estava nos cuidados intensivos. Quisemos velo de imediato... O pessoal do IPO de Lisboa, e eu falo deste porque infelizmente é o único que conheço, é de um humanismo extraordinário, desde as auxiliares, enfermeiras, enfermeiros, médicos, pessoal da copa, da cozinha, enfim para não cometer qualquer tipo de injustiça, todos sem excepção, são pessoas com corações e com sentimentos pelos outros que eu pensei nunca vir a encontrar, mas eles estão lá todos, e, todos os dias.
Deixaram-nos entrar, um de cada vez, mas deixaram-nos entrar a todos.
Novamente aberto, por cima da cicatriz anterior, só que desta vez ainda maior. A cicatriz cozida com pontos largos, muito grossos, muito inchada, horrível. Porquê ?
-Mãe, pai, não me tiraram o bicho, o Dr. Nuno já falou comigo e disse-me que não conseguiu fazer nada… Disse, muito baixinho junto aos nossos ouvidos, muito cansado a arfar com dificuldade em respirar com tantos tubos, drenos, cateteres, sondas, sacos, apitos das máquinas e sob o efeito da anestesia e de uma dose absolutamente incalculável de morfina.
As nossas cabeças ficaram ocas, não sabíamos, ou não queríamos entender o que se tinha passado, não conseguíamos raciocinar, parecia que estávamos a flutuar. Então, e agora? Olhava-mos em volta, mas não via-mos ninguém, onde é que nós estávamos?
Pouco tempo depois falámos com o Dr. Nuno que, pausadamente tentou, escolhendo as palavras, informar-nos o que se tinha passado.
Quando abriu o Tiago em cirurgia, as metástases e o desenvolvimento do cancro era já de tal ordem que se lhe fizesse alguma coisa ele iria falecer na marquesa de cirurgia. Foi horrível. O médico chorou connosco, a dor era geral, todo o piso seis, olhava para nós com dó, pena e muita dor.
É muito difícil descrever o que estava a sentir, digo estava a sentir porque neste momento cada um de nós estava a sofrer e a sentir a dor por si próprio. E o Tiago, que estaria a sentir o meu querido menino?
Nestas alturas questionamos tudo, a vida, a educação, a política, os médicos, a religião…