sábado, 1 de setembro de 2012

A viola eléctrica


A Fernanda e o Vivaldo, vieram a Coimbra passar o fim de semana connosco, para nos apoiarem e fazerem alguma companhia. Desde que o Tiago adoeceu, estiveram quase todas as semanas presentes, eles moram em Setúbal, mas a distancia nunca os impediu.
A Fernanda é irmã da minha mãe, o Vivaldo é o marido. Infelizmente nunca tiveram filhos, então, são os padrinhos de todos os sobrinhos, inclusive, eu.
De manhã o Tiago, fraco e cansado porque as noites são muito penosas e difíceis, não se estava a entender com os sacos para o estoma que tínhamos comprado quando ele saiu do HUC.  
-Filho, temos de ir a Vale Formoso trocar os sacos para o estoma, nós não nos entendemos com esses e, depois vamos comprar a tua viola eléctrica… queres? -Dizia eu.
A viola já antes estava prometida, só que a ideia era comprá-la depois dos exames do 12º ano.
-Sim pai, vamos, eu tenho dinheiro junto para a viola. -Dizia o Tiago contente, mas com uma fala pausada, cansada e num tom baixinho.
-Não meu amor, o pai e a mãe oferecem-te a viola, guarda o teu dinheiro.
Nós tinha-mos que oferecer-lhe a viola, nem que fosse o último presente material, e foi.
Saímos os dois direitos a Coimbra, curva contra curva, pediu-me que fosse devagar pois sentia dores e estava a enjoar. Assim fiz, fomos falando de coisas fúteis, banais, pois nem eu nem ele tinha-mos vontade de conversar sobre a cirurgia. Fazia-mos promessas que íamos estar sempre juntos, o quanto nos amava-mos e como íamos superar mais este obstáculo.
Quando entrámos na loja de música, a senhora que nos atendeu ficou, diria quase em estado de choque, pois conhecia muito bem o Tiago pelas horas que ele passava no estabelecimento perguntando preços, modelos, amplificadores, pedais e todos os aparelhos e utensílios que ele pensava comprar. Ele estava muito magro, muito pálido, curvado com dores,  com o incomodo da sonda gástrica, do saco do estoma, dos agrafos e os adesivos que lhe esticavam a pele.
Sabia exactamente o que queria, passou ao gabinete do fundo onde o ensinaram a ligar a guitarra ao amplificador, afinaram os aparelhos e recebeu mais umas quantas instruções. A senhora que tinha ficado comigo a fazer a factura estava ansiosa por saber o que se estava a passar com o Tiago. Conhecia-o, sempre o achou muito educado e um miúdo muito querido, o que se estava a passar? Insistia. Não tinha vontade nenhuma de conversar com pessoas desconhecidas, limitei-me a dizer que tinha feito uma operação e estava muito doente.
Carreguei o material para o carro que estava mesmo á porta, amparei o meu filho e, voltámos para casa. Quando chegou estava feliz, talvez só contente mas de tal modo exausto que não quis mostrar logo a guitarra á mãe, preferiu ir deitar-se e descansar um pouco.