A Fernanda e o Vivaldo,
vieram a Coimbra passar o fim de semana connosco, para nos apoiarem e fazerem
alguma companhia. Desde que o Tiago adoeceu, estiveram quase todas as semanas
presentes, eles moram em Setúbal, mas a distancia nunca os impediu.
A Fernanda é irmã da minha
mãe, o Vivaldo é o marido. Infelizmente nunca tiveram filhos, então, são os
padrinhos de todos os sobrinhos, inclusive, eu.
De manhã o Tiago, fraco e
cansado porque as noites são muito penosas e difíceis, não se estava a entender
com os sacos para o estoma que tínhamos comprado quando ele saiu do HUC.
-Filho, temos de ir a Vale
Formoso trocar os sacos para o estoma, nós não nos entendemos com esses e, depois
vamos comprar a tua viola eléctrica… queres? -Dizia eu.
A viola já antes estava
prometida, só que a ideia era comprá-la depois dos exames do 12º ano.
-Sim pai, vamos, eu tenho
dinheiro junto para a viola. -Dizia o Tiago contente, mas com uma fala pausada,
cansada e num tom baixinho.
-Não meu amor, o pai e a mãe oferecem-te a viola, guarda o teu dinheiro.
Nós tinha-mos que
oferecer-lhe a viola, nem que fosse o último presente material, e foi.
Saímos os dois direitos a
Coimbra, curva contra curva, pediu-me que fosse devagar pois sentia dores e
estava a enjoar. Assim fiz, fomos falando de coisas fúteis, banais, pois nem eu
nem ele tinha-mos vontade de conversar sobre a cirurgia. Fazia-mos promessas
que íamos estar sempre juntos, o quanto nos amava-mos e como íamos superar mais
este obstáculo.
Quando entrámos na loja de
música, a senhora que nos atendeu ficou, diria quase em estado de choque, pois
conhecia muito bem o Tiago pelas horas que ele passava no estabelecimento
perguntando preços, modelos, amplificadores, pedais e todos os aparelhos e
utensílios que ele pensava comprar. Ele estava muito magro, muito pálido,
curvado com dores, com o incomodo da
sonda gástrica, do saco do estoma, dos agrafos e os adesivos que lhe esticavam
a pele.
Sabia exactamente o que
queria, passou ao gabinete do fundo onde o ensinaram a ligar a guitarra ao
amplificador, afinaram os aparelhos e recebeu mais umas quantas instruções. A
senhora que tinha ficado comigo a fazer a factura estava ansiosa por saber o
que se estava a passar com o Tiago. Conhecia-o, sempre o achou muito educado e
um miúdo muito querido, o que se estava a passar? Insistia. Não tinha vontade
nenhuma de conversar com pessoas desconhecidas, limitei-me a dizer que tinha
feito uma operação e estava muito doente.
Carreguei o material para
o carro que estava mesmo á porta, amparei o meu filho e, voltámos para casa.
Quando chegou estava feliz, talvez só contente mas de tal modo exausto que não
quis mostrar logo a guitarra á mãe, preferiu ir deitar-se e descansar um pouco.
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