segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Não chores Pai...


Domingo, 20 de Junho 2010
Após uma noite agitada, com sonhos penosos, insónias, dores, pensamentos do mais terrível que um miúdo de 18 anos pode ter, não almoçou. Pouco comeu o dia todo, não tinha apetite, só tristeza, muita tristeza. Ligou a sua guitarra, tocou um pouco cá em baixo, na sala pois não tinha força suficiente para subir e descer as escadas que davam para o seu quarto. O animo era pouco, estava contente mas com pouca vontade. Agarrámos nos os três no sofá da sala, não nos conseguíamos afastar do nosso tão amado filho, queria-mos pegar-lhe ao colo, protege-lo, ampará-lo, salvá-lo de todos os males como sempre lhe prometíamos quando era pequenino.
-Não chores Pai, ficas muito feio quando choras. - Dizia…
O nosso coração não estava a aguentar, não conseguíamos estar a assistir a tudo o que se estava a passar, não lhe podíamos dizer o que já sabíamos, dor, uma dor que desfazia tudo por dentro, as nossas cabeças rebentavam, não nos era possível raciocinar, o pesadelo já mais iria terminar. Nunca mais acordava, acorda! Acorda que tudo isto é um mau sonho, é um pesadelo. Não, não era um mau sonho, estava mesmo a acontecer, o nosso filho Tiago, estava muito, muito doente.
Não, não quero, não pode ser. Porquê, porquê, não, não, o nosso filho não. Que fez esta criança de mal? Nada, só o bem. Não, não, não...
-Mãe, Mãeee.- Gritou ao inicio da noite com vómitos. Corremos para junto dele que já á algum tempo dormia no quarto mesmo ao lado do nosso.
 Em Janeiro, mais ao menos, começou a dormir no quarto ao nosso lado, o seu quarto era no primeiro piso, onde o Tiago tinha o seu mundo.
-Vens dormir cá para baixo? – Perguntávamos.
-Sim, apetece-me ficar aqui mais próximo de vocês. – Dizia.
A mãe sempre achou estranho, várias vezes comentou e repetidamente me dizia.
-O Tiago não anda bem, passa-se qualquer coisa.
Quando chegámos junto do Tiago, algo que demorou segundos, estava de joelhos na cama com a cabeça para baixo a vomitar um liquido vermelho.
-Oh não, sangue não mãe, sangue não, por favor sangue não. – Dizia chorando imenso.
-Meu filho, por favor acalma-te, por favor, não é sangue, é o iogurte com a polpa de morango que tem essa cor avermelhada, acalma-te meu amor. – Tentávamos nós acalmá-lo. Era sangue? Não sei, é possível. Meu querido filho. Acalmámo-lo, estava transpirado, pálido muito cansado, exausto e, muito, muito assustado e com medo
Dormiu o resto da noite com a mãe, mal, muito mal, aliás como todas as noites a partir daí.
Levava as noites desde então a dizer á mãe, baixinho, enquanto dormiam.
-Mãe, amo-te muito, amo-te muito.
-Também te amo muito meu querido, agora tenta descansar meu amor.
No dia seguinte iríamos ao HUC, ter com a Dra. Dulce, para o informar da sua doença.

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